Quais motivos fariam um estrangeiro imigrar para o Brasil?
O baixo índice de imigrantes morando no Brasil (vide post anterior); algumas notícias recentes mencionando a busca por imigrantes qualificados, como esta do Miami Herald e a discrepância percentual entre o número de imigrantes morando no Brasil e na Austrália me fizeram tentar responder essa pergunta.
Uma das maneiras de se tentar responder essa questão seria eu citar alguns dos motivos mais comuns que fizeram os brasileiros com os quais eu convivo aqui se mudarem pra cá e, em seguida, tentar fazer um paralelo com um estrangeiro procurando as mesmas coisas em um país diferente:
- Morar em um lugar mais seguro – Em praticamente qualquer dado estatístico a Austrália se mostra um local mais seguro que o Brasil.
- Oportunidades de trabalho na área de atuação – Quando apliquei para o visto de imigrante, minha área de atuação era uma profissão em demanda na Austrália, o que implicava em ótimas oportunidades profissionais. Não digo somente bons salários, digo desafios profissionais: projetos interessantes e de vanguarda.
- Juntar algum dinheiro para voltar ao Brasil (não é o meu caso) – O dólar Australiano é uma moeda forte e aqui se paga bem em certas especializações. Receber salário em dólar Australiano e mandar o dinheiro para o Brasil é uma boa alternativa.
- Facilidade com o idioma – Inglês é um idioma com o qual muitos brasileiros são familiarizados. É um idioma com uma estrutura gramatical simples e que usa o mesmo alfabeto que o português (alfabeto romando ou latino).
- Estudar fora – A Austrália tem 3 universidades entre as top 50 no mundo.
Se eu fosse um Australiano, nenhum dos itens acima me atrairia. Provavelmente nem mesmo a questão de oportunidades de trabalho, já que pela coluna do Miami Herald as profissões de maior demanda no Brasil (médicos, engenheiros de minas, arquitetos, etc.) são exatamente as mesmas em demanda por aqui.
Os percentuais de imposto de renda no Brasil (27,5%) e Australia (30% na minha faixa de renda) são similares. A questão financeira certamente não me atrairia, já que o salário seria em Reais.
Os imigrantes qualificados que hoje residem no Brasil também me parecem buscar justamente o que eu vim buscar aqui. Por exemplo, 94% dos médicos estrangeiros que atuam no Brasil vieram da Bolívia, Peru, Colômbia e Cuba respectivamente (vide Uol Saúde). E vieram para atuar nos grandes centros do Brasil, onde certamente se paga melhor. Creio que pessoas que têm o Espanhol como língua nativa têm uma facilidade maior de adaptação no Brasil. Além disso, o Real é uma moeda mais valorizada em relação às demais moedas latino-americanas e (apesar de tudo) certamente os grandes centros nacionais possuem uma infra-estrutura melhor que La Paz e Lima.
O aumento do percentual de imigrantes é salutar em todos os aspectos, mas os imigrantes devem vir de todas as regiões justamente pra trazer diferentes experiências e métodos de trabalhos. O número vem aumentando é verdade: em uma pesquisa de dezembro de 2012, a cada 28 novos empregos criados no Brasil, 1 era preenchido com estrangeiro. Mas, baseando-se no número de médicos do parágrafo acima, ainda é pouco e a variedade de países é muito baixa.
Como convencer profissionais cujas profissões estão em demanda simultaneamente na Austrália ou Canadá (cuja lista de profissões em demandas é também similar à lista do Miami Herald) à escolher o Brasil como destino é a grande dificuldade (minha, pelo menos). Principalmente profissionais Europeus ou Americanos (sem elitismo), que têm o inglês como primeira ou segunda língua (e não o português).
Nessa questão idiomática, mesmo comparando-se com outras economias emergentes, tais como Índia e Africa do Sul (Os “I” e “S” do BRICS), o Brasil fica em desvantagem, já que esses países têm o inglês como (uma das) suas línguas oficiais.
Na “parte 2” desse post conto um pouco da experiência que tive com estrangeiros trabalhando no Brasil (de professores à colegas de trabalho) e algumas conversas que tive com Europeus e Sul-Americanos que moram aqui na Austrália, e que tiveram oportunidades de imigrar para o Brasil, mas preferiram a Austrália. Já na “parte 3” coloco algumas idéias do que fazer para atrair mais profissionais ao Brasil.