Para quem não acompanha o assunto pode parecer estranho, mas não existe uma definição clara e global do que terrorismo signifique. Apesar da existência de uma definição dicionarizada do termo (o Oxford dictionary define terrorismo como: o uso não-autorizado de violência e intimidação para fins políticos), o professor Alex Schmid enumera quatro razões que explicam a dificuldade em definir terrorismo:
- O fato de as noções políticas, legais, sociais e populares sempre divergirem sobre o termo.
- O fato de, ao definir-se terrorismo, legitimar-se ou criminalizar-se certos grupos.
- O fato de o terrorismo manifestar-se em diversas formas.
- E o fato de, mesmo as definições dicionarizadas, terem mudado muito ao longo de dois séculos.
A falta de uma definição clara permite então que classifique-se certos acontecimentos como terrorismo (ou não) dependendo de tecnicalidades e vontades políticas. Acontece, inclusive, de classificar-se um ato como terrorismo por quase um ano e, depois de um período de investigações, classificá-lo como não terrorismo. Foi o que aconteceu no primeiro caso que quero comentar:
Sydney Siege
Em dezembro de 2014, um refugiado iraniano de 5o anos invadiu um café no centro de Sydney e tomou como reféns oito pessoas, incluindo uma brasileira. Logo do começo da crise foi hasteada uma bandeira na janela, que acreditou-se ser do estado islâmico, mas que não era.
Durante todo o tempo não ficou clara a motivação do sequestro. O que se sabia era que ele já tinha algumas passagens pela polícia (por variados motivos), já havia sido preso anteriormente e também estava em uma lista de possíveis terroristas.
Passadas 16 horas, a polícia invadiu o café, mas dois inocentes (além do sequestrador) foram mortos (Mais detalhes sobre o ocorrido e consequentes repercussões aqui).
Durante muito tempo tratou-se do ocorrido como terrorismo. Esse artigo de agosto de 2015 diz que não há dúvidas sobre o fato de Monis ser um terrorista radicalizado. Mas já no aniversário de um ano do ocorrido, a prefeita de Sydney (Lord Mayor) opta por desqualificar o ocorrido como um ataque terrorista.
The Parramatta Shooting
Em outubro de 2015 um garoto de 15 anos, gritando “Allahu Akbar“, atira e mata um policial desarmado em Parramatta (um bairro ao oeste do centro de Sydney). Na sequência é morto por um dos policiais que faziam a guarda da delegacia.
Durante as investigações quatro pessoas são presas e, nesse caso, acusações de terrorismo são efetivamente feitas contra eles. Ainda como consequência do ocorrido uma mudança na lei foi feita para permitir que control orders fossem aplicadas para maiores de 14 anos.
O garoto era iraquiano, mas não um refugiado. Membros de sua família, no entanto, vieram como refugiados para a Austrália e estavam na lista da polícia como possíveis terroristas.
Apesar de o Grand Mufti da Austrália (autoridade muçulmana) negar veementemente o episódio como terrorismo, o incidente é oficialmente considerado um ataque terrorista não perpetrado por um refugiado. O que nos leva ao último caso que quero comentar:
A morte de Shadi Jabar
Shadi Jabar é a irmã do garoto de 15 anos do caso acima. Logo após o incidente ela foge para a Síria e, no decorrer das investigações, descobre-se que ela é uma das principais recrutadora do estado islâmico.
Em um ataque aéreo norte-americano ela é morta juntamente como Neil Prakash, também um australiano radicalizado e combatente do estado islâmico e principal alvo do ataque.
No próximo e último post dessa série tento ligar as informações descritas nos posts IIe III e dar minha opinião de como deve ser a discussão pública a respeito de um tema tão complexo e quais as possíveis alternativas.